segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sem...

Você já amou alguém incondicionalmente?
Calma! Eu sei que muitos textos que falam de amor começam assim, mas esse texto não fala necessariamente de um amor entre um homem e uma mulher, e você vai entender por que não.
Eu amei incondicionalmente. Amei sem nada em troca, sem passeios, sem presentes, sem cócegas na barriga, sem atenção, sem carona, sem aprender, sem conselhos, sem broncas, sem mesadas, sem até mesmo atenção.
Amei uma pessoa que conheci pelas doces palavras propagandeadas através de outra pessoa, que tomou o cuidado em me apresentar esse ilustre e eterno desconhecido, o meu pai.
Meu pai morreu sem que eu pudesse tê-lo conhecido, não fisicamente, mas intelectual, moral e interiormente.
Não tive acesso aos seus valores, nem foi dividido comigo os seus conselhos de pai. Isso dói.
Amei, sem tê-lo visitado, sem ao menos tê-lo visto um dia se quer dentro da minha escola, seja no dia dos pais, ou nas minhas formaturas. Ele nunca foi me visitar no hospital, nem assinou minhas advertências. Não buscou meu boletim.
Não foi ele quem me ensinou a andar de bicicleta, tão pouco me ouviu balbuciando a minha primeira palavra, que, com certeza também não foi papai ou coisa afim.
Mas amei, pelo simples fato dele ter me presenteado com a vida, que sinceramente confesso não dar seu devido valor.
Amei-o tanto, que choro até hoje. E quando as lágrimas correm em meu rosto, porque na maioria das vezes eu as enforco em minha garganta, peço perdão, pois não quero que, caso ele esteja ao meu lado, ou me vendo de onde estiver, saiba que choro por ele e que sofro por isso.
Hoje recebi um telefonema daqueles em que você preferiria que Alexander Graham Bell e Antonio Meucci nunca tivessem nascido para inventar o telefone e suas variações mais modernas, como o celular.
Terei que mexer em um assunto que me causa náuseas, pois me obriga a constatar que eu vou viver a vida inteira sem o meu pai.
Sou advogada, e detesto falar em inventários, arrolamentos, partilhas e sucessões. Odeio, simples assim.
O meu quinhão para mim já está sepultado, e eu não pude desfrutar. Falo da companhia, do carinho, das risadas, das brincadeiras, das broncas ou até mesmo das palmadas que nunca aconteceram.
Amei incondicionalmente porque não tive nada em que me pegar para amar.
Amei na ausência do necessário.
Amei à distancia.
Amei platonicamente.
Amei apenas por ser meu pai.

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